Adriano Melhem

Adriano Melhem

Exposição Adriano Melhem:

 

O Marginal Romântico

 

“Seja um Marginal, Seja Herói”. Esse mote sempre me vem à cabeça quando penso em Adriano. Para mim, tanto a sua arte quanto a sua pessoa (dois elementos indiscerníveis nele) me remetem sempre para a consciência da violência e a denúncia da pretensa paz da sociedade civilizada. O desejo de paz da burguesia, além de ser legítimo, escamoteia muitas vezes o preconceito contra a diferença, e Adriano não faz concessões: sua obra é um urro libertário em meio àquilo que sempre de novo é absorvido como mercado.

 

“O Manifesto Comunista” (de Marx e Engles) e a “Sociedade do Espetáculo” (de Guy Debord) estão claramente presentes em sua obra, sempre nos lembrando das diversas formas de se manifestar a força irruptiva e rebelde da arte nos seus movimentos marginais: ocupações, grafite, o acaso, a brincadeira, a galhofa, o sarcasmo.  Apesar de os mestres da suspeita – Nietzsche, Freud e Marx – parecerem desatualizados em nosso mundo hiper-pós-moderno, ainda é no que está fora do foco que podem surgir a alegria e a potência da arte.

 

 E não se iludam: a sua teimosia de não abandonar a pintura figurativa é apenas um amplificador de seu urro por liberdade: se a arte pode tudo, por que não a velha e boa pintura? “Antes careta que falso moderno”, diz uma de suas pinturas.

 

Essa pintura que ainda teima, de alguma forma, em ser figurativa revela seu lado romântico. Aquele que não quer ser abandonado, aquele que chora a saudade e a dor de ter sido expulso do mítico paraíso, aquele que não abre mão da paixão e do anseio humanos, demasiadamente humanos, por dias melhores. Há em sua obra, em meio ao ruído de uma banda de metal pesado, uma doçura desconcertante. Ele nos coloca na encruzilhada da saudade: saudade de um passado que não volta, saudade de um futuro ainda por vir. A rebeldia de Adriano nos convoca para um lado doce e sonhador, que ainda não abriu mão do anseio jovem e ingênuo por mudar o mundo. Seu urro de liberdade ainda quer mudar o mundo, pois ainda ama o homem e suas múltiplas possibilidades.